Por Gerson Campos, colunista do Yahoo! Esportes
"Rubens Gonçalves Barrichello conquistou neste domingo (1) o primeiro título mundial de Fórmula 1 de sua carreira. Depois de um ano de disputas intensas com Jenson Button, seu companheiro de equipe, o brasileiro de 37 anos, vice-campeão de 2002 e 2004 pela Ferrari atrás de Michael Schumacher, ratificou o domínio da Brawn GP durante o ano e saiu de Abu Dhabi como vencedor da prova e campeão de 2009".
Até poucos meses atrás, a notícia aí de cima seria tomada como uma bela piada de 1º de abril para sacanear os mais desatentos. Mas depois da primeira corrida do ano, não é possível deixar a Brawn, Barrichello e Button fora da briga pelo campeonato. Sim, eles já são candidatos ao título, mas a "pobre" equipe terá cacife para chegar ao fim do ano com tamanha superioridade diante da concorrência? Pense bem: são 17 etapas e oito meses de corridas. Muita coisa vai rolar.
Por mais que possa parecer um contrassenso dizer isso depois do brilhante desempenho dos carros de Ross Brawn no domingo, creio que ainda seja cedo para dizer que os dois são os principais candidatos ao título. Os outros times chegarão neles, mais cedo ou mais tarde (resta saber se não será tarde demais). Vejamos por quê.
Não é segredo para ninguém que o carro da Brawn é um foguete porque começou a ser desenvolvido sob a tutela das novas regras ainda no primeiro semestre de 2008. Como Ross sabia que a máquina do ano passado era uma tristeza, centrou fogo na deste ano (tudo ainda indicava que a Honda estaria na pista, e a crise financeira que tirou a marca da categoria ainda nem tinha dado seus primeiros sinais de vida). Com a mudança das regras que trouxe todos quase para o mesmo nível - as referências foram perdidas -, quem tivesse mais tempo de desenvolvimento se daria melhor. É o caso da Brawn. "Mas eles não ficaram parados um tempão entre dezembro e março?", perguntará você. Ficaram, mas o carro estava pronto e já era bom. E o melhor: deu a sorte de casar perfeitamente com o motor Mercedes, hoje um dos melhores do grid.
Mas a Brawn não tem a estrutura de Ferrari, McLaren e Toyota, só para citar as maiores. Mais cedo ou mais tarde, os times grandes chegarão. "Mas os testes não foram proibidos? Como eles conseguirão essa evolução sem testar?" Simples. Testa-se nas sextas e sábados de GPs. Exemplos hipotéticos: a Ferrari não poderá criar uma nova asa dianteira e testar em Fiorano e a McLaren não terá a chance de ver em Silverstone se o assoalho do carro de Hamilton ficou melhor com algumas mudanças. O que farão as duas? Em vez de apenas uma nova asa e uma nova configuração de assoalho, farão dez asas e dez configurações de assoalho testados em computadores e túneis de ventos. Na sexta da corrida, todos são testados e o que ficar melhor vai para a pista. Questão de orçamento, o ponto fraco da Brawn.
Longe de mim querer jogar um balde de água fria em cima de uma coisa tão bacana como a a chance de ver uma equipe nova, com pouca grana e gente tão motivada brigando de igual para igual com verdadeiras multinacionais sobre rodas. Mas mesmo na F-1 "pobre" de 2009, em tempos de crise e com restrições orçamentárias (esse é o discurso, mas quem garante que o os gastos já caíram?), hoje o dinheiro ainda é o combustível que movimenta o esporte a motor. Tomara que estejamos aqui de volta em 1º de novembro para dizer que esse dogma foi para o saco.