12:20 27/04/2009
Por Gerson Campos, colunista do Yahoo! Esportes
O filme não é mais novidade e muitas brincadeiras parodiando "O Curioso Caso de Benjamin Button", produção protagonizada por Brad Pitt, já foram feitas com Jenson Button. Mas é impossível não tomar a história da carreira do piloto até como uma lição de perseverança e associá-la, mesmo que de forma caricata, ao filme em que Benjamin nasce velho e vai ficando novo, vivendo ao contrário e só chegando ao auge de sua forma em idade avançada (é bom, assista). Falar da trajetória do inglês não lembra só a questão do desemprego recente, das três vitórias em quatro etapas e da liderança do campeonato pouco depois. A coisa começou muito antes.
Em 2000, Button estreou na Fórmula 1 pela Williams com apenas 20 anos de idade. Era novo, estava com tudo e todos esperavam que ele arrebentasse a boca do balão. Não arrebentou. No primeiro campeonato, a grande aposta dos ingleses andou bem, mas não fez milagre: acumulou 12 pontos e fechou o mundial em 8º numa época em que apenas os seis primeiros pontuavam. Em 2001, ainda sob contrato com a Williams, foi emprestado à então Benetton (que virou Renault na temporada seguinte) e fez dois anos apagados. Em 2003, sua carreira cruzou com a BAR, time em ascensão que contava com o apoio da poderosa Honda. Foram anos de altos e baixos, a primeira vitória em 2006 e a sensação de que Button já tinha passado do ponto, como aconteceu com Giancarlo Fisichella, David Coulthard e o próprio Rubens Barrichello.
Como se já não bastasse a terrível carroça que pegou em 2007, quando já guiava um carro feito pela Honda (que comprou a BAR em 2006), Button caiu em descrédito com a torcida graças à chegada de um tal Lewis Hamilton, que já brigou pelo título em seu primeiro ano e conquistou o campeonato em 2008, tirando os britânicos de uma fila de 12 anos. A coisa estava brava para ele? Ainda não acabou.
Mesmo desempregado após o abandono da Honda e com a imprensa inglesa bajulando seu novo campeão mundial, Jenson ainda tinha de conviver com o fantasma do processo que enfrentou contra BAR em 2004. Naquele ano, Frank Williams ofereceu um contrato para ter o inglês de volta ao time, mas a BAR alegou que seu acordo com Button ainda previa mais um ano de seus serviços no time. Mesmo contrariado, Jenson teve de ficar e a perspectiva de ir para a Williams pereceu.
Portanto, coloque-se na cabeça de Jenson Button meses atrás: ele brigou para sair e foi obrigado a ficar em uma equipe que o deixou a pé quatro anos depois (tudo bem que depois de 2005 a opção de ficar foi dele, mas, se a liberação em 2004 tivesse ocorrido, estaria ele sem um cockpit?). É um prato cheio para qualquer analista, não?
Mas Button demonstrou que não é apenas um playboy que desfila com belas mulheres e gosta de curtir o luxo da Fórmula 1. Foi à fábrica da Honda logo após o anúncio do fechamento da equipe, deu declarações tentando motivar os envolvidos em uma possível ressurreição do time e rejeitou propostas - uma delas da Toro Rosso, cujo dono é o mesmo da Red Bull, que já ganhou corrida neste ano - ainda acreditando que daquele mato sairia cachorrro.
Aos 29 anos, já naquela fase em que o piloto começa a ser preterido por jovens talentosos, Button passou a pilotar como nunca e botou no bolso Rubens Barrichello, que o derrotou no ano passado. Soube reagir no momento que precisava e ganhou em troca a liderança do campeonato e três das quatro vitórias em seu currículo num espaço de menos de dois meses. Da mesma forma que seria loucura apontar Ronaldo como um dos melhores - se não o melhor - jogador em atividade no Brasil há coisa de três meses, quem apostaria no desacreditado Jenson Alexander Lyons Button como líder do campeonato após quatro etapas? Como Benjamim Button, Jenson - e até Ronaldo - nos provam que o tempo é mesmo uma definição muito pessoal.
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