O domínio de Jenson Button no início desta temporada dificilmente não fará do inglês o campeão mundial de 2009. A história nos diz. Depois da corrida, lembrei dos inícios arrasadores de Ayrton Senna em 1991 e Michael Schumacher em 1994, quando ambos venceram as quatro primeiras provas da temporada. Fui pesquisar. Até 1950, ano em que a Fórmula 1 começou a ser disputada no formato que conhecemos hoje. Além dessas performances fantásticas, ainda temos os exemplos de Nigel Mansell em 1992 e do próprio Schumacher em 2004, com cinco vitórias seguidas nas primeiras provas daqueles campeonatos. Historicamente ainda aparecem os registros dos começos animados de Jim Clark em 1963 (não ganhou a primeira, mas levou as quatro seguintes) e Jackie Stewart em 1969, ano em que o escocês voador venceu cinco das seis primeiras. Todos, sem exceção, foram campeões mundiais.
Então Button já pode pegar a taça e levar para casa? Ainda não. A história nos ensina também que, se é importante começar com tudo, é tão fundamental quanto manter a média durante o ano. Principalmente nas últimas décadas, quando os campeonatos passaram a acumular facilmente mais de 15 GPs – em 1963, por exemplo, Clark nem precisava se preocupar muito com a regularidade num ano que teve 10 corridas e ele já tinha vencido quase 50% delas; o mesmo pode ser dito do desafio de Stewart em 1969, ano com 11 provas.
Nas últimas décadas, porém, não foi tão fácil assim – a exceção fica por conta de 1992, quando Nigel Mansell passeou com a Williams "de outro planeta", apelido dado ao carro por Senna. As temporadas de 1991 e 1994 avisam a Jenson Button que é bom não deitar sobre os louros da vitória antes do tempo.
Primeiro exemplo: apesar do início destruidor de Senna em 1991, Nigel Mansell reagiu e fez um miolo de campeonato muito mais regular que o de Ayrton, que chegou a ficar cinco provas sem vencer enquanto Mansell levou três delas. Depois disso, o que parecia um passeio rumo ao título virou tensão para o brasileiro no meio do ano. A taça veio com o erro do estabanado Nigel no GP do Japão, mas chegou mais difícil que o anunciado no começo da temporada.
Segundo exemplo: em 1994, Schumacher quase teve uma úlcera antes de levar o primeiro de seus sete títulos. O alemão viu a enorme vantagem que tinha para Damon Hill se esfacelar depois de duas desclassificações e uma suspensão de duas corridas. Acabou vencendo por um ponto de vantagem depois de errar, jogar o carro para cima do rival e tirar os dois da pista.
Resumindo: Button é, sim, favoritíssimo, mas deve ficar esperto. E que ninguém ache que ele já levou, afinal, até nomes como Senna e Schumacher passaram sufoco quando não esperavam mais incômodo.
Mas vamos tranquilizar um pouco Button, que pode estar lendo esta coluna. Jenson, apesar dessas histórias quase trágicas, a seu favor pensam dois fatores importantíssimos: diferentemente daqueles anos, quando o vencedor marcava 10 pontos e o segundo colocado levava para casa 6, desde 2003 as regras mudaram (justamente em função do domínio de Schumacher em 2002) e a tabela virou para 10, 8, 6, 5, 4, 3, 2, 1, premiando até o oitavo colocado e privilegiando a regularidade em detrimento das vitórias. Tudo o que você poderia querer. Só para ter ideia de sua vantagem: se Barrichello quiser assumir a ponta da tabela e chegar em segundo durante todas as provas a partir de agora, Rubens levará sete provas para alcançá-lo. Sete. Vettel levaria nove GPs, e Hamilton, seu último virtual candidato ao caneco, não conseguiria descontar os 32 pontos de diferença apenas tirando de dois em dois. O mesmo vale para Massa e Raikkonen. Portanto, relaxe e continue guiando assim que você chega lá. Não precisa agradecer o apoio. Só arrume umas entradinhas para mim e para os nobres leitores na festinha do título que fica tudo certo. Um abraço.
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