domingo, 17 de maio de 2009

Rubens Barrichello relaxado, bem humorado e seguro de suas palavras, conversou com LANCENET! no Golf Club de São Paulo na última quinta-feira



Uma semana após a polêmica mudança de estratégia da Brawn para Jenson Button no GP da Espanha,
Rubens Barrichello colocou um ponto final no caso. Relaxado, bem humorado e seguro de suas palavras, o vice-líder do Mundial de Fórmula 1 conversou com o LANCENET! no Golf Club de São Paulo na última quinta-feira e falou não só sobre a sua confiança em ser campeão como sobre outros assuntos relativos à sua carreira. Veja abaixo todas as partes do papo de mais de uma hora com o piloto brasileiro.



Barrichello: 'Nunca fui chamado de pé-de-chinelo'

Piloto faz balanço do início de temporada e fala da relação com a torcida


Na primeira parte da entrevista exclusiva de Rubens Barrichello ao LANCENET! , o piloto brasileiro falou sobre o início agitado de temporada, a sua relação com o torcedor brasileiro e a pressão após a morte de Ayrton Senna, em 1994.


LANCENET!: Rubens, você tem sido um praticante regular de golfe. É uma maneira para relaxar após cinco corridas em sete fins de semana?

Rubens Barrichello: O golfe é, para mim, uma diversão. É uma liberdade de expressão. Você vem para um lugar arborizado no meio de São Paulo e tem muita semelhança com um carro de corrida. No carro de corrida você nem tem muito tempo de ficar nervoso, porque você erra uma curva e já tem que estar pronto para a próxima. Não dá tempo de ver as coisas erradas. Aqui no golfe, você tem tempo de ficar nervoso. Ao errar um bolinha, aquilo te provoca um desprazer tão grande, e se você levar o nervosismo para a próxima bola, é muito ruim. Então, é uma maneira de deixar as coisas ruins para trás e partir para as boas e tem me ensinado muitas coisas. Tem muito a ver com um carro de corrida.


LNET!: Que balanço você faz do início da temporada pela Brawn?

RB: Primeiro de tudo, foi uma dádiva. Tenho de agradecer aos céus a todo momento. Porque apesar de eu achar em todo momento que eu teria o carro para correr (devido à retirada da Honda), e eu sabia que o carro poderia ser mais competitivo do que foi nestes últimos dois anos, por ter a mão do Ross Brawn, a gente não sabia que seria tão competitivo. Quando eu soube da vinda do motor Mercedes, também houve de parte de toda equipe um certo tipo de contentamento, porque sabíamos do potencial do motor. E hoje a F-1, com o regulamento que exige que todos os motores tenham o mesmo peso, favorece demais uma mudança de motor. Havia certas diferenças para acoplar o motor, mas a gente sabia que o carro podia já ser competitivo com o Honda, e talvez mais competitivo ainda com a Mercedes. Então foi muito, muito bom poder botar para fora todo aquele sentimento de quando acabou a corrida do Brasil, quando ficou no ar aquele: "pô, será que ele não vai mais correr?". Eu vi televisões nem sequer mencionando meu nome para o ano seguinte, e depois de uma semana anunciarem que eu estava contratado. Foi muito bom eu poder usar tudo aquilo que eu queria usar em um carro competitivo. Não queria parar de jeito nenhum. Acho que o (Jenson) Button já sabia que iria correr mais tempo que eu. Digamos que existe um lado em que ele começou o ano melhor preparado. Eu achei que seria pole position na Australia depois de ter feito as duas primeiras classificações na pole, mas a verdade é que o Button começou bem preparado, está passando por um momento muito bom. Ele foi mal falado no passado, mas é ótimo piloto. Tem uma velocidade extrema, comparável com o Schumacher em muitas ocasiões. Eu tive um começo de ano de muitos pontos, para quem estava acostumado a lutar pelo oitavo posto foi um começo de ano fantástico. Se comparar o começo de ano com meu companheiro de equipe, deixa a desejar, porque ele tem quatro vitórias e eu dois segundos lugares. Mas acho que está só começando. Minha vida sempre foi uma luta e tenho que ir atrás sempre quando der.


LNET!: Como vê esta temporada sendo liderada por uma equipe estreante e com McLaren e Ferrari na traseira?

RB: É a primeira vez que isso acontece. Nos últimos dez anos houve mudanças radicais de regulamento. Sempre uma Ferrari e uma McLaren voltaram ao topo e esta é a primeira vez que não se vê isso. Houve uma melhora muito grande dos outros, maior do que o carro da Ferrari. Acho que o carro da Ferrari fez um salto muito grande na pista de Barcelona, mas não é um carro dominante ainda. Então, eu acho que isso é de se apreciar. Para o mundo da F-1, é para se apreciar. Afinal de contas, tem muita gente que torce para a Ferrari pelo carisma. Quandoo Mike Tyson caiu pela primeira vez, muita gente torceu para que ele voltasse. Acho que existe uma torcida para isso. Mas, por enquanto, acho que é muito saudável para a F-1 ter equipes como a Red Bull na ponta. A Brawn é mais uma surpresa: uma equipe que estava andando mal e de repente apareceu. Acredito que seja super saudável.


LNET!: Sobre a falta de reconhecimento de algumas pessoas. Você sentiu que queriam te aposentar, como aconteceu com o Guga? O retorno é um cala-boca?

RB: Eu não sei por quê, mas não tenho essa coisa de vingança. Se eu for campeão mundial nesse ano, a primeira coisa que vou fazer é agradecer aos caras que me ajudaram. Os que não me ajudaram não me interessam. São pessoas que não fazem parte do meu dia a dia, entendeu? Falaram mal, mas hoje em dia o grande problema gera muito mais notícia do que a notícia morna. Diferentemente do que ocorria dez anos atrás. E eu sou uma pessoa morna. Se você pensar bem, vai ver que minhas respostas são sempre no sentido de falar a verdade, mas não causar polêmica. Então, acaba se tornando uma coisa morna. E isso às vezes não vende. O cara (jornalista) já vem assim: "pô, o Rubinho é um cara que fala as coisas de dentro, de coração, não quer ficar usando muito a razão para falar". Aconteceu com o Guga, acontece com a Daiane, com o Rubinho, acontece uma série de coisas. Onde disseram que o Ross Brawn afirmou que o Rubinho era lento? Isso é uma mentira. Uma tradução errada de uma frase. Aí vira um bafafá intenso, que na minha opinião é desnecessário. É o momento de vibrar, de torcer. Se o cara estava no túmulo e estavam querendo que ele parasse, agora ele está com a gente, é ele que vai fazer ganhar. Então vamos torcer. Eu sofri muito quando o Guga começou a cair, quando começaram a botar pressão. O próprio (Diego) Hypolito, aposto que ele só não fez porque houve uma pressão muito grande dele e da torcida/mídia. Então acho que é um sofrimento que precisava não ocorrer. O próprio Button, na Inglaterra, já foi esquecido, mas nunca massacrado. Hoje, ele é rei. Mas ontem não era rei, mas não era medíocre. Era bem tratado, sabiam que com um carro bom ele subiria. Acho que falta um pouco disso no Brasil. Não falta carinho, não é isso. Falta um certo pensamento mais homogêneo, mais harmonioso no que se trata de uma pessoa que quer levantar o moral do país.


LNET!: Quando houve a perda do Ayrton a pressão foi grande. Muita coisa foi publicada sobre propostas de outras equipes. Naquele período, o que efetivamente você teve nas mãos para assinar?

RB: Eu nunca fiz escolhas pelo dinheiro. A maior prova disso é esse ano. Meu salário é menor do que quando eu comecei na F-1. Você pode até dizer que eu ganhei muito e não preciso. Mas eu nunca tomei uma decisão na minha carreira que fosse voltada a esse fator. Em 1994 para 1995, falei com a McLaren para assinar contrato. Mas isso não aconteceu porque o contrato seria assinado da mesma forma que foi o Mika Hakkinen. Era um contrato meio vago, que não falava se seria piloto ou piloto de teste. Isso para mim era uma furada. O cara tinha de mostrar que estava interessado e ponto final. Então eu saí fora e voltei para a Jordan. No ano seguinte, tive oportunidade de assinar com a Benetton. Foi para 1996, acredito. Só que entrou o (Gerhard) Berger com patrocínio de uma cerveja alemã. Isso me tirou da jogada. Em seguida, e uma das melhores coisas que eu fiz, foi ter assinado com a Stewart. Mas tinha proposta da Sauber, da Tyrrell. Mas a Stewart foi um recomeço em grande estilo, porque eram quatro anos de experiência em uma equipe nova. Aquilo me jogou para a Ferrari.


LNET!: Como você vê o reconhecimento do povo brasileiro? Ao longo do tempo, mudou a forma de ver as brincadeiras de programas de TV?

RB: Quanto aos brasileiros, o Brasil não é o que é relatado por alguns da imprensa. Eu não vejo nenhuma mágoa. Sou muito verdadeiro: se eu tenho algum problema com você, ou eu estou errado ou você. Eu só vejo carinho, só vejo as pessoas torcendo e sofrendo. E as pessoas que sofrem sabem que eu sofro ainda mais. Eu não sou de acordo com o que é relatado. Quando um repórter vem e diz “o povo pergunta”, eu falo: “não, o povo não pergunta”. O povo só pergunta se eu estiver ao vivo em um programa, em um site, e o cara pergunta. Não, é o jornalista que quer saber e quer passar. Eu acredito que recebo muito mais carinho ao vivo do que as pauladas que são relatadas por aí. Quanto às brincadeiras, eu sempre fui uma pessoa que deixei para lá. Mas hoje acho isso uma coisa bem estúpida, para te falar a verdade. Aos 36 anos, 37 daqui a pouco, eu dei sangue por tudo aquilo que quis fazer. Sou pai de família, tenho dois moleques que podem receber brincadeiras na escola por causa do pai, por alguém que cria algum tipo de brincadeira. Então, acho isso estúpido. Acho estúpido mesmo. Tem muitos assuntos a serem falados. Tirar sarro de um esportista que está ali, de 15 em 15 dias tentando levar a bandeira do Brasil para cima, devia ser proibido. Fico brabo com brincadeira com outros.


LNET!: Então, por exemplo, quando você vai buscar seu filho no colégio, o que sente? Qual é a reação do povo?

RB: Nunca recebi um “pé-de-chinelo” na rua. Nunca. Para mim, é um dos maiores orgulhos, porque são brincadeiras que poderiam acontecer. Nunca recebi um desse na rua. No colégio, é uma satisfação muito grande. Eu vou lá na terça e quinta, porque meu filho joga bola, e aí a molecada não quer nem jogar. Ficam lá: “tio, como que é correr?”. Não tem essa amargura. O fato é que aparece na televisão, e as pessoas que torcem ficam até mais bravas do que eu. É um negócio tão sem graça que não tem nada a ver. Os meus maiores fãs são crianças e idosos. A faixa do meio é difícil, porque quando vai numa discoteca pega um cara que bebeu um pouquinho e o cara abusa. É sempre uma dificuldade grande. Mas os idosos falam muitas verdades, e as crianças principalmente. “Tio, por que você deixou passar?”. É tocante, mas é bom. É pura. É quando posso responder de coração a uma pergunta.

Motivação é o combustível de Barrichello

Brasileiro comenta ainda o período de incerteza no início do ano


Em sua conversa franca com a reportagem do LANCENET!, Rubens Barrichello também falou sobre a enorme motivação que ainda tem para competir, o período de incerteza entre o anúncio da retirada da Honda e a confirmação da Brawn GP. Além disso, o piloto brasileiro comentou sobre a sua viagem ao espaço, através de um projeto do milionário Richard Branson, um dos investidores da sua equipe.


LANCENET!: Você tem mostrado motivação. Outros pilotos, como Kimi Raikkonen ou Lewis Hamilton, demonstram que não deverão seguir muito tempo na F-1. Como é seu amor pelo automobilismo?

Rubens Barrichello: É um amor muito louco, meio incondicional. Eu não sei explicar. Sou do tempo que, quando eu morava em Interlagos, conseguia pegar o tempo do meu competidor pelo barulho do carro até fazendo a lição de casa. Meu pai sempre falava para fazer a lição e ir correr, mas era difícil. Quando queriam me aposentar, passei uns dez dias meio indeciso. Mas foi um pensamento tão positivo que deu certo. Eu me projetando correndo facilitou as coisas. Minha motivação vem da paixão. O que me motivava ano passado era guiar um carro ruim, que eu podia balancear, e tentar chegar ao máximo onde poderia. No caso, o pódio do ano passado (no GP da Inglaterra, sob chuva). Não conseguia ganhar, mas conseguia melhorar. Ia contente como vou para casa hoje. A motivação é do sonho de almejar alguma coisa no seu dia a dia.


LNET!: Conte mais sobre a novela da Honda. Você chegou a passar algum tempo nos Estados Unidos...

RB: Não foi daquele jeito. Foi relatado que eu fiquei quatro meses nos Estados Unidos. Mas não foi isso. Passei o fim de ano, voltei, fui para lá jogar um torneio de golfe e retornei ao Brasil.

LNET!: E como foi esse período de incerteza? O que Ross Brawn falava, como ele influenciou na sua contratação?

RB: É importante falar que eu só quis falar dos Estados Unidos porque muita gente disse que eu ficaria por lá, iria para a Penske (na IndyCar), etc. Eu falei com a Penske. Mas foi a imprensa que me chamou a atenção. Mas minha mulher nunca quis que eu fosse. Já fui convidado duas ou três vezes para fazer Indianápolis. Foi a única coisa que ela me pediu. Até outro dia brinquei com ela e falei que, se não quisesse que fosse para a Indy, faria algo muito pior (risos). Vou para o espaço. Ou seja, ela se ferrou. Sobre o Brawn, houve um tempo em que comecei a duvidar, porque a coisa não mexia. Ele falava para manter o físico em dia, que tinha de correr, porque poderia acontecer da noite para o dia. Foi o que eu fiz. Minha motivação era ir para a academia todo dia, sabendo que aquilo não era para ficar bonito na praia. Era para ficar apto para guiar um carro de corrida. Acabei jogando muito mais golfe. E acho que nem minha esposa acreditava tanto que eu ia voltar a correr. Mas meus filhos eram os únicos que tinham certeza que de eu ia sumir para ir correr.


LNET!: Alguém pode bater este recorde de longevidade seu (272 corridas na F-1)?

RB: Acho muito difícil. Os caras perdem a motivação muito rapidamente. Não entendo isso. Quando fui moleque, antes de chegar à Ferrari, teve um momento em que disse que não tinha mais condição. Foi entre a Jordan e a Stewart. O carro não andava direito, só ficava em casa, ou fazendo relações públicas no meio do México. Não era o que queria para a minha vida. Mas, hoje em dia, nem se treina mais na F-1. Vi a entrevista do Hamilton depois da corrida (Espanha), só faltava chorar. “Meu carro não anda”. Acho isso uma visão um pouco egoísta. Ele teve dois anos de carro espetacular, e uma hora ia cair. O que ele deveria fazer? Continuar ali, treinando, que uma hora volta. Não custa nada continuar ali treinando com raça, um dia vai virar. O brasileiro sempre acha que a vida dos outros é melhor, que a mulher dos outros é melhor, e a gente esquece de olhar para a nossa. E esses anos todos de leitura, de estudo, foi quando consegui melhorar. E entendi que, em vez de pedir, deveria agradecer.


LNET!: Tem alguma data marcada para você fazer esta viagem para o espaço?

RB: Não me falaram ainda. Pode ser final de 2010 ou em 2011. Estão fazendo viagens, experimentos agora. O mais legal é que o Richard Branson vai com a família dele. Minha mulher estava com medo, mas se o cara vai com a família...


LNET!: E por que ir para o espaço?

RB: Sempre tive vontade. Sempre tive vontade, mas a verdade é, e nem sei como você publica isso, fui um cagão quando estava no alto. Sempre morri de medo. E comecei a descobrir o meu excesso de instinto. Com o tempo, fui administrando isso melhor. E como estou ficando velho, quero fazer as coisas. Já pulei de bungee jump, queria ir de para-quedas, queria correr de Indy. Tenho vontade de saber se o mundo é redondão mesmo.


LNET!: Um de seus grandes momentos foi o segundo lugar em Mônaco pela Stewart, em 1997. Na semana que vem tem Mônaco, seu aniversário (no sábado, dia 23), carro bom. É a hora da sua virada?

RB: Eu acho que nada vem de graça. Já tentei trabalhar muito com superstição, coincidência, e nada disso existe. Se você fizer a pole e encher a cara, não ganha corrida. A sorte é determinação e oportunidade. É preciso estar lá, trabalhar o carro desde quinta-feira. É uma pista que eu adoro.


LNET!: Atrai bons fluídos...

RB: Atrai, sim. Se falar de coisa ruim, nunca vou deslanchar. Em 1991, não gostava de Brands Hatch. Chegava lá e pensava que se ficasse em segundo estava ótimo. Isso era uma grande falha, e que me ensinou muito durante minha carreira. Porque ganhar em Budapeste (em 2002, pela Ferrari) numa pista que não era meu forte foi exatamente um salto positivo em minha carreira. Eu tenho moradia em Monte Carlo, passo algum tempo lá. É uma cidade ótima, não existe nada na rua. Mas no fim de semana, não dá para sair na rua. Talvez se for arrastado. É casa e pista. E a pista é o máximo. Adrenalina, perigo te rondando a todo momento, e a classificação é o lugar mais legal. É escutar três batidas no guard rail.


LNET!: É sua pista preferida?

RB: Não é minha preferida. Eu adoro Silverstone, por alguma razão extra. Eu gosto de espaço. Monte Carlo não é das minhas preferidas, mas é onde melhor ando.


Com franqueza, Barrichello fala das polêmicas


Piloto revela que não deixaria Michael Schumacher passar hoje

Rubens Barrichello não deixou de falar na sua entrevista exclusiva ao LANCENET! sobre a polêmica envolvendo a mudança de estratégia de Jenson Button no GP da Espanha. O piloto brasileiro deixou claro que acredita na lisura da Brawn GP, mas afirmou que logo após a corrida quis saber exatamente o porquê da tática do companheiro de equipe havia sido alterada e a sua não. Além disso, Barrichello falou sobre o GP da Áustria de 2002, quando a Ferrari ordenou que ele cedesse o primeiro lugar a Michael Schumacher. E revelou: hoje não cumpriria uma ordem desta natureza.


LANCENET!: Rubens, vamos falar sobre o GP da Espanha. Conte como foi seu papo com a equipe após a corrida.

Rubens Barrichello: Acabou a corrida e antes de todo mundo falar, tem uma mesa gigante dos engenheiros. O Ross sempre começa falando. Eu pedi a licença e comecei falando: “eu tenho muito respeito pelo Jenson, que anda muito, está em um ótimo momento, está de parabéns, mas hoje vocês me disseram que três paradas era melhor do que duas. E eu deveria ter vencido a prova. Gostaria que vocês me desses o porquê de isso não ter ocorrido”. Naquele momento, foi falada uma série de coisas, mas por mais que eu tenha passado por problemas no terceiro set de pneus, deveria ter andado umas cinco voltas a mais. A resposta foi toda voltada no Rosberg (a equipe alegou que mudou a estratégia de três para duas paradas porque Button corria o risco de ficar preso atrás do piloto alemão. E também no safety car. Não sei por que cargas d’água a gente não aumentou as voltas atrás do safety car. As nossas voltas, mesmo depois do safety car, se mantiveram. Eu acabei a corrida decepcionado de ter ficado em segundo e não ter vencido. Não conseguia entender. Me disseram que três paradas era tão melhor que duas. E o desempenho do Button não foi tudo isso.


LNET!: Você está totalmente convencido de que não houve favorecimento ao Button? E você teme que o Button seja colocado como o primeiro piloto da equipe, depois dos resultados que ele já obteve?

RB: O que eu tenho de fazer agora é não pensar muito nisso. Tenho de trabalhar muito bem comigo mesmo, e estar pronto para quando a situação virar. Porque vai virar. Não é que daqui a duas ou três corridas eu vá estar a 40 pontos dele e liderando. Está tudo acontecendo direitinho. Ele está ganhando. Uma hora ele vai chegar em segundo. Quando isso acontecer, eu tenho que trabalhar para chegar em primeiro. A gente não fez um terço do campeonato, está muito cedo para se diferenciar.

LNET!: Você contou que pulou o muro para ver uma corrida da F-1 no Rio. E que outras loucuras você fez para ver provas?

RB: Tive muita sorte na minha vida de ter uma família que morava em Interlagos. Eu morei minha vida inteira em Interlagos. Minha avó morava entre as curvas 1 e 2 do circuito antigo. Eu já fiz muita loucura, eu pulei muro de quatro metros para poder chegar e ficar escondidinho ali entre as curvas. Essa do Rio eu fui com o único amigo que tinha 18 anos, dormi na caçamba do carro, acordei às seis da manhã para conseguir entrar. Lá, encontrei um cara que me viu correndo em Jacarepaguá em 1984, e eu pedi a ele para entrar no autódromo. Eu consegui ficar em um canto perto da curva 1, e eu vi a largada. Foi aquela corrida em que o Thierry Boutsen perdeu o espelho em uma pedra (na verdade foi por causa de destroços que voaram de um acidente entre Ayrton Senna e Gerhard Berger). E eu estava ali do lado, eu vi a peça voando. Tem um momento em que eu estive presente, por uma pura sorte e glória de um menino muito aficionado pelo que fazia. Sonhava em chegar lá, mas aquele momento é um bom exemplo para aqueles que querem chegar lá. Hoje em dia eu vejo um molequinho do kart dizendo que quer chegar na Fórmula 1 em 2013, é uma projeção muito ruim para ele naquele momento. Por isso que não há hoje bons pilotos, eles não acabam fazendo bem o momento presente, e o momento passa.


LNET!: E como são seus filhos Eduardo e Fernando no dia a dia?

RB: Os dois falam que querem correr. Na verdade eu não sei se o Eduardo, que é o mais velho, se ele realmente quer. Está passando o tempo, e eu já falei para ele que eu não vou falar para ele andar de kart. Se ele quiser andar, ele vai andar. Ele é muito aficionado por golfe e futebol. Outro dia até fiquei meio assim porque ele escalou o Corinthians inteiro, tinha uns dois ou três que eu não sabia, e o moleque cravou. O pequenininho é muito porra louca. Ele é muito mais eu hoje... Eu sempre fui um cara comedido, o Eduardo é meio assim. Hoje eu sou um cara muito mais despojado, participo das cagadas, das brincadeiras, e eu vejo o Fernando muito mais nesse sentido, eu vejo ele parecido comigo hoje. Ele fala muito em correr. Eu chego em casa e vejo ele direto no videogame, no Mario Kart jogando no Wii. O moleque hoje em dia não precisa nem ir para o kart. Se bobear, a sensação da velocidade nesses jogos dá alguma vantagem daquela que era diferente para mim.


LNET!: Você gosta de jogar?

RB: Eu sempre fui moleque nesse sentido. Lá em Mônaco eu tenho um simulador, o jogo Ferrari 355. Quando esse jogo apareceu lá na Ferrari, pedi para arrumarem um para mim. Para mim este é o que mais se parece com a realidade, não porque é veloz, mas pela realidade. Eu gosto de jogar com câmbio na mão. Os moleques jogam. Isso é outro aspecto que vai me doer muito no dia em que eu falar "não gosto mais disso". Em uma segunda-feira, quando tem pouca gente, eu vou no shopping e fico jogando videogame com os moleques a tarde inteira. Vai me doer bastante o dia em que eu não tiver mais essa vontade.


LNET!: Você faria alguma coisa diferente na sua carreira?

RB: Eu não faria nada de novidade. Tudo que é bem feito ou mal feito serve como aprendizado. Não mudaria nada. Mas se você me pega hoje, com a mentalidade que estou, sem medo de ser feliz, sem medo de falar aquilo que eu acho que é verdade, provavelmente eu não deixaria o Schumacher passar (no fim do GP da Áustria de 2002). Mas se você me perguntar se eu voltasse atrás e naquele momento eu faria diferente, digo que não. Porque foi o que foi falado no rádio, eu não tinha o que fazer. Naquele momento eu tinha de deixar passar. Mas hoje eu teria peitado.


LNET!: O que o Michael Schumacher disse para você quando vocês chegaram aos boxes depois da corrida?

RB: Ele me disse que foi uma decisão da equipe, que ele sentia muito. Mas depois eu fui ouvir o rádio, ele estava completamente ciente daquilo que estava acontecendo.


LNET!: Você acha que, se houve um vilão nessa história, uma pessoa que poderia ter evitado isso, seria o Schumacher?

RB: Eu não digo por aí. Para mim, indifere o que ele pensa ou deixa de pensar. O fato que eu, se estivesse atrás, eu não faria isso (ganhar por ordem da equipe). Eu aprendi a ser uma pessoa humana e que tem que lutar pelos seus objetivos.


LNET!: Depois disso, você pensa muito diferente hoje?

RB: Eu acho que se você tem um ideal na cabeça, isso precisa ser seguido. Provavelmente eu teria sido mandado embora, ou minha relação com a equipe não teria sido boa. Mas eu acho que, novamente, é bom ressaltar: naquele momento eu não faria diferente, mas se eu começasse a correr de novo, se eu pudesse ter essa postura, não faria isso.


LNET!: Sair da Ferrari foi um alívio?

RB: Foi, porque eu vi que não coneguiria chegar aonde eu queria. Na minha ida para a Ferrari eu tinha com certeza o desafio grande de correr com o Schumacher, mas era isso o que eu gostava naquela situação. Você teme porque você nao sabe o que vai fazer, mas o desafio de correr contra ele e de ganhar dele era o grande barato do negócio, nos primeiros anos eu literalmente comi merda para crescer lá dentro. Em 2005 o nosso carro não era o melhor e se viu que em dificuldades maiores os caras ficaram piores em termos de relacionamento, aquela prova de Mônaco eu estava tentando passar o Ralf (Schumacher) para ele vir junto, quando eu vi tomei uma paulada no meio do nada. O cara me bateu jogando o carro em cima. Ali comecei a ver a coisa diferente. Aí entrou eu mesmo. "Mas aí você nao deveria ter ficado para ter um carro competitivo quando ele parasse?". Talvez, mas eu nao aguentava mais, eu não era eu, eu não era feliz.


LNET!: A competitividade do Schumacher influenciou nisso?

RB: Na maioria das vezes ele foi melhor do que eu. Eu tinha de melhorar, porque o cara era nota 10. Mas eu achava que ele não precisava daquele tipo de proteção porque era uma situaçã muito clara. Se ele tinha algo a mais do que eu, era o talento natural. Ms se largassem os dois juntos com um tigre em uma gaiola, era capaz de somente eu sair vivo. Eu sempre tive percepção de guerra, de estar sempre pronto para o desafio. Ele queria ganhar sempre de qualquer jeito.

Barrichello faz auto-avaliação: 'Eu me gosto muito'


Recordista de provas na F-1 fala da relação com a mídia

Na última parte da sua entrevista exclusiva ao LANCENET!, Rubens Barrichello falou sobre a sua relação com a mídia especializada e a sua crença em ser campeão mundial pela Brawn. Por fim, fez uma auto-avaliação:- Eu me gosto muito.
LANCENET!: Você disse que está escrevendo uma biografia. Você já tem ideia de quando vai sair?

Rubens Barrichello: Eu tenho momentos de solidão, hoje em dia abro o computador no avião e começo a escrever. Hoje eu não tenho dois capítulos escritos. Eu tenho muita história para ser contada. Mais engraçadas do que polêmicas. Eu não penso no dia em que eu parar já vai sair o livro. Eu acho que não vai acabar sendo eu que vai escrever totalmente, terei de passar alguns dias com alguma pessoa para poder falar. Tem jeito de eu querer ser polêmico, tem jeito de eu querer ser bonzinho. Se o cara quer ser maldoso em um site ele pode usar uma frase de maneiras diferentes. Não tenho pensado muito nisso, mas toda hora que estou no avião escrevo um pouco.


LNET!: Falando em lembranças, a corrida na Alemanha (a primeira de Barrichello, em 2000) foi a grande da sua carreira?

RB: A melhor corrida foi a de Silverstone (em 2003), mas eu ja tive corridas até melhores, mas que não apareceram na televisão porque eu estava brigando pela décima posição. Mas a melhor vitoria foi a de Silverstone. A de Hockenheim foi a melhor porque ali eu comecei a ser eu mesmo. A equipe falava para eu ir para o box porque estava todo mundo indo, e eu falei "eles estão loucos". Essa história é verdadeira. O Brawn viu que eu falei com tanta convicção que ele disse "espero que você esteja certo". Se você conseguir continuar na pista você vai ganhar a corrida. A minha sorte foi que todo mundo pensou ao contrário. Todo mundo foi para o box. Por duas vezes eu achei que ia rodar mesmo, estava molhado para caramba, no Estádio, e eu ganhei assim. Acho que foi ali que assinei meu contrato com a Brawn (risos) Mas a prova melhor dirigida, com ultrapassagens, foi a de Silverstone.


LNET!: Você diz que é sempre muito autêntico. Mas na Fórmula 1 tem muita coisa que fica apenas na aparência. É necessário se fazer muito "meio-de-campo", ser falso, para sobreviver na F-1?

RB: Às vezes a pessoa importante se acostuma com as pessoas puxando o saco. Chega um que não puxa o saco, e esse incomoda. Ao mesmo tempo que não gosto de fazer coisa fora do normal. Se eu não me dou bem com você, ou é porque eu tenho de melhorar, ou é porque você tem de melhorar, alguma coisa está errada. Comigo na Ferrari existia sempre uma reunião antes da corrida para se relarar os assuntos que poderiam ser polemicos, você acaba retraido. Isso era uma coisa ruim, o que você pode e o que não pode falar. Você se torna um Michael Jackson que está lá em cima, e você não pode chegar, disso eu não gosto. Eu me sinto super à vontade, temos alguns jornalistas na F-1 que procuram conhecer meu dia a dia para dar opinião, me sinto super à vontade de falar aquilo que foi perguntado. É claro que se não for perguntado, eu não vou falar, como por exemplo se eu tive diarreia hoje de manhã. Não vai precisar chegar a esse ponto, nesse sentido sou tranquilo e muito mais verdadeiro do que retraído. Eu tenho relacionamento bom com as pessoas pelo jeito como eu sou. Eu não mudei desde que eu sou moleque, e facil ter relacionamento aberto. Não é porque está gravando que eu vou pensar no que vou falar, por isso que eu tenho muitos amigos. Na F-1 todos os jornalistas são amigos. Quando se fala "vocês têm de pensar que o Rubinho tem muito mais respeito lá fora do que aqui". É por isso que eu tenho amigos. O grupo que faz a F-1 é legal, é uma pena que não é como na época do Ayrton, quando tinha muito mais gente. A crise é grande e não tem jeito. Os jornalistas lá são inteligentes e estão indo atrás.


LNET!: Você disse no começo do ano que acreditava que poderia ser campeão mundial neste ano. Você ainda crê nisso?

RB: Vai ser um resultado de trabalho longo, se tiver de ser, o fato de sempre bater na mesma tecla... Eu recebo muita carta que diz que se eu sei que vou ganhar, porque não fico quieto, não precisa falar, vai criar pressão. Minha vontade não é criar essa pressão. É de mandar mensagem para o Brasil de que eu estou trabalhando para ser o que eu sempre pude ser e o que eu sempre quis ser. É um trabalho que está sendo feito com suas dificuldades, mas existe chance. Preciso do apoio, e estou cuidando muito de mim para que isso aconteça. Só vai acontecer se você quiser que aconteça. Li uma frase muito importante outro dia: "quando você acha que você pode, e quando você acha que você nao pode, os dois vao estar certos". Q que manda em você é sua cabeça, se você acha que você pode, você pode. Se você acha que você não pode, você nãao pode. É isso que me comanda hoje em dia, quero muito, de coração, de razão, de bandeira, de tudo. Pelo país, por mim, por minha família.Você imagina meu pai, eu correndo ainda, e aquela emoção toda de ver a corrida, a largada. Falei brincando para a Silvana (sua esposa), ela não estava em Barcelona, engraçado como algumas coisas acontecem. Eu falei "você está preparada para eu liderar a primeira volta?" (Barrichello, de fato, liderou). Ela disse "vai vai, tchau, boa sorte" (risos).


LNET!: Para fechar, qual é a avaliação que você faz de si mesmo hoje?

RB: Eu me gosto muito. Diante de tudo aquilo que eu leio e o que eu vejo, se eu não me gostasse eu poderia cair em depressão. Não é o julgamento de certos jornalistas... Quando eu desço do carro, eu sou o primeiro a falar. Se eu não errei, não acho que vale a pena o cara achar a desculpa para falar que o Ross Brawn disse que eu era lento. Acho isso feio, da parte da pessoa que escreve isto. Eu me gosto muito, me vejo guiando muito bem, por isso que eu não queria parar. Não poder utilizar isso, no momento em que eu acho que estou chegando no auge da minha carreira em termos de pilotagem, para mim seria muito difícil. Todo mundo tem espaço para poder crescer. Não acho que sou perfeito em nada. Mas não há algum fator que, depois de tantos anos, eu precisa evoluir muito. Tenho espaço para melhorar muito. A hora que eu mais gosto do fim de semana da corrida é a classificação. Tenho largado atrás do Button, mas no Q2, com pouca gasolina, eu fiquei quatro vezes na frente dele, contra uma dele. Só que quando teve mais gasolina no Q3 ele largou na minha frente. É uma F-1 que não é muito verdadeira. Eu acho que velocidade de classificação é daquele que foi o mais rápido, sem essa coisa de gasolina, e as coisas que podem dar errado. Eu tenho muito a aprender, mas não há um fator em que eu seja ruim e preciso melhorar... No aspecto mental, eu era aquele brasileirinho, apegado à família, sentimental, e que teve de crescer mundo afora, com as suas opiniões.
http://msn.lancenet.com.br/formula-1/noticias/09-05-17/546100.stm?automobilismo-rubens-barrichello-abre-o-jogo-ao-lancenet

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