sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Coluna Warm Up: À francesa

O mais importante é que a Renault, de fininho, numa típica saída à francesa, sem muito alarde, deixou a F-1. Sua equipe não existe mais

Flavio Gomes

O bafafá que se criou com o anúncio da compra de parte da Renault pelo Lotus Group nesta semana oculta uma questão mais relevante do que a discussão sobre quem tem direito de usar a histórica marca no Mundial — se a Lotus verde que estreou neste ano, do malaio Tony Fernandes, ou a Proton, montadora igualmente malaia que é dona da Lotus que ainda faz carros esportivos na Inglaterra, e nada mais tem a ver com o espólio das competições.

O mais importante é que a Renault, de fininho, numa típica saída à francesa, sem muito alarde, deixou a F-1. Sua equipe não existe mais. Já no final do ano passado a montadora vendeu a maior fatia do time para o fundo de investimentos Genii, que passou a ser, de fato, dono das operações da equipe na categoria. Agora, a Renault vendeu o que ainda tinha na equipe à Proton da Malásia. E fica na F-1 apenas como fornecedora de motores.

Esse vaivém da Renault não é exatamente uma novidade. Os franceses já tiveram equipe própria de 1977 a 1985, e depois ficaram apenas vendendo motores para Lotus, Ligier, Tyrrell, Williams e Benetton. Em 2002, comprou o time colorido e voltou a andar com as próprias pernas. Foi quando conquistou seus dois títulos, em 2005 e 2006 com Fernando Alonso. Desde 2007 vende motores também para a Red Bull. Motores que são, na verdade, feitos pela Mecachrome, uma empresa canadense que atua principalmente na indústria da aviação.

Agora, a Renault cai fora de novo. Carlos Ghosn, brasileiro que preside a empresa, nunca curtiu muito a F-1 e seus gastos exorbitantes. Livra-se das despesas e passa a auferir receita com seus três clientes de 2011: a Red Bull, a Lotus de Fernandes e a Lotus da Genii. Assim, junta-se a Honda, BMW e Toyota, que largaram a categoria recentemente. Sobraram Mercedes e Ferrari como equipes de fábrica. A F-1 das montadoras, como previa Max Mosley, já era.

No que diz respeito às duas Lotus, a questão é simples de entender e difícil de resolver. A marca, para competições, foi comprada há anos por David Hunt, irmão de James Hunt, campeão mundial de 1976. Fernandes comprou os direitos de uso no ano passado e fundou seu time, que tem como razão social 1Malaysia. A estatal Proton, coincidentemente sediada na Malásia, resolveu entrar no negócio das corridas e há tempos é dona da marca Lotus para carros de rua, uma empresa à parte, embora a origem seja a mesma, fundada por Colin Chapman. Se acha no direito de usar o nome, também. Aliás, já o faz na Indy e na GP3, e vai disputar também as 24 Horas de Le Mans.

As duas Lotus terão motores Renault em 2011. Uma delas, imagino, vai ter de mudar de nome. Na queda-de-braço, aposto que a Proton leva. Até a histórica pintura preta e dourada já foi revelada, antecipando-se a Fernandes, que tinha anunciado intenção semelhante. É algo que os tribunais terão de solucionar. Duas equipes com o mesmo nome é esculhambação demais.

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