sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Renault anuncia saída de Briatore e Symonds e diz que não contesta FIA




Escuderia emitiu comunicado confirmando a saída dos dirigentes envolvidos no escândalo do GP de Cingapura

Warm Up

A Renault agiu antes do esperado e tomou uma posição antes mesmo de conhecer o veredito da FIA sobre a polêmica envolvendo o GP de Cingapura. Nesta quarta-feira (16), a equipe emitiu um comunicado oficial confirmando as saídas de Flavio Briatore e Pat Symonds da escuderia. No comunicado, o time destacou que não vai contestar as novas alegações feitas pela FIA sobre a prova, praticamente assinando um atestado de culpa, assim como não vai se manifestar antes da reunião do Conselho Mundial, que acontece no próximo dia 21 em Paris."A Renault não vai contestar as recentes alegações feitas pela FIA sobre o GP de Cingapura de 2008. Também gostaria de comunicar que seu diretor-executivo, Flavio Briatore, e seu diretor de engenharia, Pat Symonds, deixaram o time.

Antes de comparecer à audiência do Conselho Mundial da FIA, em Paris, no dia 21 de setembro, o time não vai fazer qualquer comentário", diz o comunicado enviado à imprensa.A saída de Briatore já era esperada. Segundo informação publicada nesta terça (15) pelo jornal espanhol "AS", a FIA iria fazer um acordo com a Renault para que a equipe tomasse essa decisão. Em troca, o time gaulês não correria nenhum risco de expulsão da F1 no julgamento do caso. Além de apontar a dispensa de Briatore, o diário também indicou quem deve ser o substituto do italiano no cargo de chefe de equipe. O preferido é Frederic Vasseur, chefe da ART, equipe do campeão da GP2 em 2009, Nico Hulkenberg.

O dirigente, segundo as fontes ouvidas pela publicação, teria pedido um tempo para pensar no convite e dar uma resposta. Outros nomes já foram especulados, como Alain Prost e David Richards.No entanto, não era esperado que Symonds seguisse o mesmo caminho. De acordo com o jornal inglês "The Times", foi oferecido ao agora ex-diretor de engenharia que contasse o que sabe sobre o escândalo para não ser punido no encontro do Conselho Mundial. Uma delação premiada, a exemplo do que foi feito com Nelsinho Piquet.

Aliás, soube-se nesta quarta que o brasileiro deu dois depoimentos à FIA. Além do que foi feito no dia 30 de julho, e que já fora divulgado pela imprensa, o piloto deu mais detalhes do plano de Briatore e Symonds no dia 17 de agosto. Piquet revelou que Pat usou o exemplo do seu pódio no GP da Alemanha para explicar o que era necessário fazer na corrida de Cingapura.Além disso, Nelsinho também confirmou que a reunião com Symonds e Briatore aconteceu cerca de quatro horas antes da prova, no escritório de Flavio no paddock cingapuriano, e durou no máximo dez minutos. O piloto disse que acreditava ter sido chamado para o encontro para discutir detalhes do seu contrato, "algo que já acontecera outras vezes", nas suas palavras.
Piquet também ressaltou que Symonds foi quem mais falou durante a reunião entre os três, e que Briatore permaneceu quase todo o tempo em silêncio. Pouco depois, Pat levou ao piloto um mapa do circuito de Cingapura para mostrar qual deveria ser o ponto em que a batida precisava ocorrer para garantir a entrada do safety-car.Relembre o caso Cingapura 2008Conforme foi revelado pelo Grande Prêmio no dia 9 de setembro, Nelsinho escapou de uma punição graças a uma delação premiada. Nelson, seu pai, entrou em contato com Max Mosley para lhe contar do que havia ocorrido em Cingapura em 26 de julho, dia do GP da Hungria.
Quatro dias depois, o brasileiro deu um depoimento à Federação Internacional de Automobilismo sobre o ocorrido na etapa asiática no ano passado com a garantia de que não iria sofrer nenhuma sanção no futuro.No depoimento, Piquet, de forma bem detalhista, confirmou o plano de Briatore e Symonds de "sacrificar" a corrida do brasileiro para que Alonso tivesse a oportunidade de vencer a prova.
De posse da acusação de Nelsinho, investigadores da agência especializada Quest, os comissários do GP da Bélgica – Lars Osterlind e Vassilis Despotopoulos, ambos membros do Conselho Mundial, e Yves Bacquelaine –, e Herbie Blash, observador da FIA, deram início às investigações, entrevistando membros da Renault e Alonso. A posteriori, chamaram Symonds.Posto na parede em 27 de agosto em Spa-Francorchamps, o diretor da Renault foi questionado sobre a reunião e o que foi dito nela, a batida na volta 14 e o encontro com Piquet para definir o lugar específico do ato. Para nenhuma destas perguntas houve uma negativa, algo que seria comum se não houvesse participação no plano.Blash ainda comentou que a "falta de vontade" em colaborar poderia significar uma confissão, e Symonds rebateu que "esperava isso".
No dia seguinte, Pat foi novamente convocado, e pouco acrescentou — após ter conversado com Briatore, que havia chegado à pista belga.Briatore, então, foi o alvo. Negou tudo. Disse que ficou sabendo por um membro de sua empresa de gerenciamento de pilotos sobre a acusação da armação e que foi, tal como já dito, vítima de extorsão da família Piquet e que levaria o caso à justiça se este viesse à tona.Foi o que fez.Só depois das entrevistas feitas que a FIA e a Quest tiveram acesso aos dados da Renault, em disco, e à transmissão de rádio.
As informações da equipe apontavam as estratégias de corrida, que davam a Alonso a chance de parar duas ou três vezes. Em ambas, o espanhol largaria com uma quantidade de gasolina parca, de 63 kg, que o faria ir aos pits na volta 14. Para Nelsinho, a tática seria de duas paradas, com combustível considerado normal, nas voltas 28 e 44.Symonds acabou, então, mudando o estratagema de Alonso durante a corrida, fazendo-o parar duas voltas antes do previsto.As gravações de rádio mostram um Symonds nervoso por Alonso estar perdendo tempo sem conseguir superar um rival. "Enquanto estivermos atrás de (Kazuki) Nakajima, estamos fodidos", bravejou. Um engenheiro concordou, dizendo que "sim, vai foder nossa estratégia de três paradas completamente".Symonds surpreendeu o engenheiro — e daí imaginar que ninguém mais na Renault sabia da conspiração — com a informação de que não seriam mais três paradas. O funcionário lembrou que, pelo desenrolar da corrida de Alonso, a ida ao pit poderia acontecer na volta 15 ou 16.
Respondeu Symonds: "Não se preocupe com o combustível porque eu vou tirá-lo desse tráfego mais cedo."Enquanto Symonds "lamentava" Alonso não passar Nakajima, o dirigente reclamava um suposto problema nos computadores. O japonês da Williams, então, passou Jarno Trulli. No giro seguinte, o espanhol fez o mesmo, mas permitiu que Kazuki abrisse 4s de vantagem.

Concomitante a isso, Piquet perguntava em que volta estava. Era a 8. A um engenheiro, que pensava que a dúvida de Nelsinho se dava por conta do consumo de gasolina, Symonds falou que "só fala para ele que está... está para completar... completar a volta 8".
O brasileiro explicou que não conseguia ver a placa dos boxes.Apesar de começar a andar quase 1s5 mais rápido que Nakajima, Alonso avisou que estava com problemas de aderência em seus pneus. Apareceu na história Briatore, que disse: "Não tem como passar Nakajima com esses pneus".Aí Symonds "mudou" a estratégia. Apontou que Alonso pararia na 12, "porque parece que vai dar certo". Um engenheiro perguntou a Pat "se não era um pouco cedo", e Symonds "teimou". Briatore concordou com um "não temos nada a perder".
Alonso, então, fez sua parada."Certo, vamos nos concentrar em Nelson", comentou Symonds. Piquet estava atrás de Rubens Barrichello e, apesar da pressão, não o superava. "Fala para ele pisar fundo", pediu Briatore. Symonds começou a observar o tempo de volta de Nelsinho. Trinta segundos depois, o brasileiro abria a 14.Symonds pediu ao engenheiro de Piquet que "você tem que forçá-lo muito agora. Se ele não conseguir passar Barrichello, ele... ele não vai a lugar nenhum. Ele tem que passar Barrichello nesta volta".
Segundos depois, veio a batida.Briatore reagiu com uma série de palavrões, um "foda, ele não é piloto". Mesmo assim, manteve seu "não-piloto" para a temporada 2009, com uma redução salarial, de US$ 1,5 milhão para US$ 1 milhão, e um contrato com base numa cláusula de performance.

Depois de analisar a telemetria e os depoimentos, os comissários do GP da Bélgica decidiram enviar a questão ao Conselho Mundial. Eles não puderam questionar Piquet sobre as alegações de Symonds de que foi o piloto quem levantou a possibilidade de uma batida intencional, mas consideraram que a admissão de Symonds de que houve a discussão da possibilidade é um "suporte substancial" da alegação de Piquet de que a batida foi deliberada.Segundo os comissários, a soma de vários fatores levaram a "concluir que as alegações de Piquet são, em sua maior parte, verdadeiras."

Estas questões foram a confissão de Symonds de que conversou com Piquet, sua recusa em responder nos dias 27 e 28 o que foi discutido quando ele, Piquet e Briatore se encontraram antes da corrida, e, por último, sua recusa em negar que indicou onde e em que volta Piquet deveria bater.Os comissários não consideraram somente a telemetria para ter uma evidência conclusiva de que Nelsinho se acidentou intencionalmente, mas usaram a confissão como base para saber como ele causou a batida.As alegações de Piquet e as respostas e recusas de Symonds em responder foram o que conduziu os representantes da FIA àquela conclusão.

"Parece indicar aos comissários que poder ter havido alguma conversa na presença de Briatore sobre a possibilidade de causar uma batida deliberada", diz o relatório feito sobre a investigação. Apesar disso, não se declararam prontos "para tirar qualquer conclusão definitiva em relação ao conhecimento ou envolvimento de Flavio".Ainda assim, o documento declara que "a reação de Briatore quando ouviu dos comissários que seu diretor de engenharia havia admitido que discutiu um acidente proposital com Piquet não pareceu ser de susto ou raiva" e que a carta de Flavio a Nelson Piquet é uma "estranha reação à tal séria alegação" de extorsão por parte do tricampeão para a manutenção do filho na equipe.

O texto levanta suspeitas sobre a veracidade da acusação de Flavio. "A resposta mais lógica vinda de uma posição de inocência poderia ter sido a abertura de uma investigação interna ou relatar as alegações à FIA, tomando todas as providências necessárias para confirmar que elas eram infundadas, acabando, deste modo, com a suposta ameaça de extorsão."O relatório da FIA é finalizado com a confirmação de que "existe uma evidência que, no geral, sugere que a batida de Piquet foi deliberada e fazia parte de um plano destinado a assegurar um benefício para a equipe, em que pelo menos um membro da cúpula da Renault foi cúmplice."

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